Nepente

Acabou. Ontem foi o último dia que eu pisei como estudante naquela faculdade... E apesar dos cinco anos maçantes, posso dizer que já sinto saudade, e não fazem nem vinte e quatro horas que sai por aquela porta e pensei 'estou formada'.
Toda vez que me perguntam o porque eu fazia Publicidade e Propaganda, a única coisa que eu sabia responder era 'nem eu sei'. Curioso. Eu fazia um curso que adorava, mas em que o diploma não passaria de um enfeite na minha parede... Engano meu.
A bagagem que a faculdade me trouxe foi muito mais importante do que os trabalhos sobre a Teoria da comunicação, ou das aulas de Planejamento. Foi no primeiro semestre que eu pude segurar pela primeira vez na mão, uma câmera reflex. E pode parecer exagero, mas foi naquele momento em que eu pensei 'é ISSO o que eu quero pra minha vida'. E mesmo as aulas de fotografia parecendo inúteis e minhas notas vermelhas nas provas, aquele dia me fez perceber um dos motivos pelo qual eu escolhi esse curso.
Essa escolha me fez trancar a faculdade e ficar congelada nos estudos por pelo menos um ano, e pensar em voltar era um pesadelo daqueles mais tenebrosos. Voltar em ano de TCC pra uma faculdade que eu não pisava a meses, pra mergulhar em projetos cansativos que valem a nota do meu semestre inteiro, com pessoas que eu nunca vi na vida... Eu tinha muito mais medo deles não gostarem de mim, do que eu não gostar deles. Mas era um peso que teria de ser carregado pelo menos por um ano.
A vida é mesmo uma caixinha de surpresas, e quem diria que eu teria um anjo da guarda que se encarregou de fazer esse peso nas costas se transformar em uma nuvem de algodão. E esse anjo da guarda era nada mais do que meu padrinho de formatura do ensino médio... Em um piscar de olhos, tudo estava encaminhado e eu já tinha doze loucos dispostos a colocar uma garota que eles nunca viram na vida naquele grupo.
O mais curioso era que com o tempo, eu fui descobrindo que dentro daquela agência nomeada 'Poema', ninguém se conhecia direito apesar dos quatro anos juntos. Não sei o que eu pensava: se eu entrei num buraco sem saída com um monte de gente que não sabe nem o nome direito, ou se estaríamos nos conhecendo ali, mesmo que de uma forma tardia, pra nunca mais nos esquecermos.
Passei por muita coisa ruim nos últimos dois anos, e quem me conhece a fundo sabe disso... Quando voltei pra faculdade eu estava a beira de uma depressão - ainda que não diagnosticada, e eu nunca quis procurar um médico pra isso, porque no fundo eu sabia que era uma fase que iria passar... E passou, confesso que com algumas feridas que as vezes voltam a doer, mas esse assunto já é outro. Fato é que, quando eu precisava ir a faculdade, eu esquecia todos os meus problemas e mesmo que atarefada e preocupada com o futuro acadêmico, doze pessoas me envolviam de risadas e ali eu fugia do mundo real.

Depois dos amigos maravilhosos que arrumei na época da escola, nunca fiz tanta questão de manter amizade com alguém, quanto estou fazendo agora. E apesar de saber que cada um ali não tem nada-a-ver um com o outro, sei que é isso que faz a gente se completar em todos os sentidos.
As noites mal dormidas, os bordões repetidos milhões de vezes sem perder a graça, a divisão de mentira que a gente fazia entre o pessoal de criação e de planejamento, a viagem pra Curitiba, o churrasco, o excesso de creem cheese, as baladas furadas, a comida japonesa do cc, o nosso envolvimento com a causa autista e a nossa distância resolvida pelo Sedex. Sem dúvidas, nós fizemos um Poema.
Se hoje me perguntarem porque eu escolhi fazer Publicidade e Propaganda a minha resposta sem dúvidas será: "foi pra conhecer pessoas maravilhosas".
O que não para de passar na minha cabeça nesse momento é "O que vem daqui pra frente?", mas esse já é assunto pra outro texto que, sem dúvidas, será o ombro amigo de cada uma dessas pessoas que tiveram coragem de me abraçar esse ano que me trará respostas.
Poema, o detalhe que transforma e que se dependesse da saudade, duraria o dia todo.