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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Nossa rotina

É uma sexta-feira seca, venta frio. E nesse mundo paralelo eu paro pra refletir na nossa rotina que não tem sido rotina mais. Não temos tido mais tempo de viver nossa mesmice de todas as manhãs. Mas calma, falta pouco pra acabar.
Saudade das sexta-feiras corridas em que eu passo o dia me preparando pra te ver, empacoto minhas coisas e levo pra sua casa como se fosse passar o mês fora. Minha sacola cheia de opções e meu coração engasgado de saudade.
Eu chego e te acordo com uma porção de beijos. Você, cansado do trabalho, faz cara de quem quer mais e me pede pra eu não te largar. A gente pede um yakissoba e você mesmo sem gostar, abre mão de comer na cozinha e me deixa sujar sua cama de shoyu.
E ai a gente passa horas conversando e se amando - que susto! Já são duas da manhã e você precisa ir dormir. Mas você não dorme e fica arrastando sua aversão a sono até umas três e meia, enquanto eu já estou no quinto sono e recebo seus cutucões por respirar forte e atrapalhar você. São nove da manhã e você acorda atrasado. Não importa. É com uma tonelada de beijos e carinhos no pé que eu percebo que você está saindo pra trabalhar.
São onze horas e eu acordo com o barulho de portão e cachorro latindo, escovo meus dentes e desço rapidinho sem ninguém perceber pra subir com meu café-com-leite bem quente naquela xícara gigantesca da sua avó. Meio dia e pouco e você já está correndo pra voltar, me pega recém saída do banho e vendo aquela série de prisão feminina que eu amo e você odeia... E nessa indecisão entre prestar atenção em você reclamando de alguns clientes chatos e terminar de ver o episódio, a gente corre pra algum lugar pra almoçar e passar o resto do dia fazendo qualquer coisa que a gente goste. Ir ao shopping, visitar seu sobrinho, tomar um açaí na pracinha, ir em algum show ou simplesmente assistir qualquer desses programas chatos na tv.

É sábado a noite e a gente continua na indecisão se a gente se ama, se a gente está com fome ou se a gente só quer dormir mais um pouco. Então a gente belisca qualquer besteira, corre pro bar mais próximo com nossos amigos e toma uma cerveja de banana.
E ai de última hora inventamos de sair no domingo de manhã, tomamos um café reforçado, eu pego um tênis emprestado e a gente corre pro Parque do Ibirapuera pra andar de bicicleta. Enquanto você ri de mim, eu ameaço tombos e aprendo a trocar a marcha. E nosso dia corre mais rápido do que poderia. A gente pede algumas esfihas e vai dormir com azia prometendo nunca mais fazer isso.
É segunda de manhã e você me leva atrasada pro trabalho enquanto eu perco a paciência, e nesse meio tempo eu percebo que estou brava e não é com você... É pelo tempo passar rápido demais.
Essas últimas semanas eu tenho sentido falta dessa nossa rotina atrapalhada e gostosa, mas falta pouco pra eu poder passar mais tempo de novo ao seu lado, dormindo esmagada na nossa cama de solteiro e comendo porcarias o dia inteiro.
E nisso nossa vida vai seguindo, transbordando saudade, ligações desesperadas na madrugada, rolês solitários e trabalho estressante.
Da nossa rotina, só a gente entende. E o mais gostoso de tudo isso é que esses momentos me fazem perceber que eu te amo mais que ontem, mas não mais do que te amarei amanhã.