Páginas

sábado, 28 de abril de 2012

Da série: a vida que vocês não conheciam.


 Às vezes eu fico pensando na proporção que as coisas tomam quando não estamos de bem com a nossa vida. Fico pensando também se existe algum tipo de karma, algum tipo de balanço, alguma regulagem ou até mesmo uma cota pra gente ser feliz.
Estou com essas coisas rodeando a minha cabeça a muito tempo, e quando digo muito tempo quero dizer mais do que dias, quero dizer meses, até anos.
Durante muitos deles, ou pelo menos muito tempo da minha vida, eu podia dizer que era feliz. Às vezes reclamava em excesso sobre os professores chatos da escola, em acordar cedo pra ir pro colégio, ou das apaixonites mal correspondidas quando eu tinha meus quinze anos. Coisas tão pequenas... Eu deveria ter calado a boca cada vez que reclamava de algo. Bem que tentaram me avisar...
Hoje, depois de alguns anos, beirando meus vinte e dois, paro e penso em que rumo minha vida tomou. Inicialmente minha idéia não é publicar esse texto, é uma forma de desabafo de algo que falo pra mim todos os dias (estou cansada de saber disso, mas precisava compartilhar com alguém, ou alguma coisa). Então, se eu tiver coragem de compartilhar isso, não peço piedade, não peço palavras, não peço nada, apenas espero ajudar caso alguém esteja passando o mesmo, e me desculpem por estar me expondo dessa forma.
Minha vida tem sido um choque de realidade todos os dias. Passei os últimos anos dela pensando ser a pessoa mais feliz do mundo, ou uma das. Nada na vida é perfeito, nada. Sempre temos nossos problemas pessoais, nossos problemas emocionais, familiares e tantos outros. Mas quando estamos bem, passamos por cima de tudo como se nada estivesse acontecendo. Esse é o ponto. Eu me sinto imensamente tão abalada, que qualquer gota que caia sobre mim, parece o oceano pacífico inteiro.
A dor que eu carrego de cada magoa pesa mais dos meus cinquenta e tantos quilos. Normalmente, em outras épocas eu superaria, deixaria passar. Hoje parece tudo tão diferente, não encontro forças, não encontro fé, não encontro nada a não ser o barulho da dor. Cada manhã que eu acordo eu só desejo voltar a dormir. É aquele esquema de rotina, aquela rotina que cansa. E quem me dera estar cansada da rotina de acordar cedo pra ver gente, trabalhar, pegar um transporte público lotado, ou até mesmo, ir para o colégio aguentar algumas aulas de física. A minha rotina é aquela de sentar no sofá e só sair pra ir pra cama, e isso tem sido um ciclo sem fim.
Às vezes me permito ir até a faculdade, ver alguns amigos, rir um pouco, fingir que outro mundo existe e que nele eu posso voltar a ser como era antes. Não sou e não levo esse lado como falsidade, se eu quiser rir, eu vou rir. Se eu quiser sair, eu vou sair. Se eu quiser viver, eu vou vier. E acredito que tenha sido essa parte e essa forma de encarar as coisas que não me deixam derrubar de vez. Não quero pensar que se eu permitir, nem da cama eu levanto mais. Porque se eu quisesse, eu já estaria imensamente mais derrubada do que estou agora.
Se dependesse de mim, acho que o caso seria grave. Mas tive uma criação ótima, tenho amigos (aqueles que contamos em uma mão, claro) que não permitem que nada de pior aconteça pra mim. Mas às vezes dá vontade de desistir... Não desistir da vida, isso nunca me passou pela cabeça. Mas de desistir em agradar a mim, me permitir rir às vezes ou sair da rotina. Por mais que isso raramente aconteça...
Parece irônico quando leio tantas e tantas pessoas dizendo que se inspiram em mim pra tantas coisas. Num ponto isso me parece bom, porque acredito que não transpareço tanto meus problemas e conflitos pessoais. Mas por outro lado, não consigo tirar força disso pra continuar.
Há cerca de dezessete meses atrás perdi uma das coisas mais valiosas pra mim, e vocês sabem do que eu estou falando. As pessoas mais próximas a mim ficam inconformadas por eu ainda não ter superado tudo isso, mas eu não superei. Eu vivi um conto de fadas que simplesmente queimaram, de uma forma aonde só as memórias poderiam contar alguma coisa. Era tudo uma mentira, era tudo tão falso quanto uma nota de três reais. E mesmo soando tão falso, era o que eu mais amava na vida.
Depois desse abalo emocional, nada foi como era antes. Perdi tanto, perdi tudo. Perdi um relacionamento que talvez tenha sido a única coisa que eu superei. Mas perdi amizades (ou aquelas que eu acreditava ter), perdi um amor da vida (aquele que você colocava sua mão no fogo), perdi um ente tão querido. E perdi o tesão pelo meu trabalho.
Com tanta coisa jogada fora, nada mais sobrou a não ser minha família que me dá forças sempre que peço, mas que às vezes parece não entender o conflito que vive dentro de mim. E o mesmo vale para os meus amigos. Cada pessoa no mundo tem sua própria realidade, e essa é a minha. Ninguém além de mim sabe como é passar o que eu estou passando.
Eu tinha esperanças que esse ano tudo ia mudar. Como se ao soar da meia noite do dia trinta e um de dezembro mudassem todas as coisas, como se eu fosse renascer ou ser transportada pra outro mundo. E eu vi que nada, absolutamente nada disso aconteceu.
Concordo com certeza, quando me falam que se eu continuar sentada no sofá da sala esperando as coisas acontecerem, elas não vão simplesmente cair em cima de mim e acontecer. Mas eu não tenho coragem, eu não tenho um pingo de vontade, não sinto uma gota de esforço e nem de fé pra tentar alguma coisa.
Foram tantas coisas que aconteceram ao longo desses últimos dezessete meses, que parece que minha vida é como um jogo. E ela está se esgotando a cada dia que passa. Mas eu fico prorrogando a esperança de algo melhor entre períodos. Minha próxima aposta é no semestre que vem, mas depois de tantos abalos, no fim eu sei que só estou me enganando.
Não quero dizer que isso é grave, mas também não quero que tenham a consciência de que isso é normal.
As vezes acho que estou ficando louca a ponto de só pensar em fatalidades. Essa parte da história eu tenho superado, mas ainda é difícil. Depois que perdi meu avô (a primeira pessoa na vida que perdi que era próxima a mim), parece que estou preparada ou me enganando a estar pra perder qualquer outra pessoa. Mas digo isso porque cada vez que alguém sai de casa, parece que vai ser a última vez. Nossa! Escrevo isso com lágrimas nos olhos porque não gosto de imaginar jamais a minha vida sem essas pessoas. Mas esses pensamentos pesados e às vezes ridículos são maiores do que eu.
Dia desses me peguei chorando sem motivo na cama antes de dormir, era uma pressão tão grande no peito que pela primeira vez em não-sei-quantos-anos fui dormir na cama dos meus pais. Sim, aos vinte e um.  Depois disso, só deito se estiver realmente caindo de sono, não me arrisco mais em ‘ficar pensando na vida’ até o sono chegar.
Nunca fui do tipo de pessoa que chora por qualquer coisa, mas me transformei nisso. Chorei nesses últimos meses o que nunca chorei na vida inteira. Me transformei na versão mais emotiva de mim mesma. Isso me incomoda às vezes, mas pelo menos agora consigo colocar pra fora, por mais banal que sejam os motivos.
Esses dias eu fui guardar meu carro na garagem, por pressa e desatenção, ralei ele no portão. Fiz um estrago de uns vinte centímetros. A culpa que senti era tão grande que chorei mais de duas horas seguidas. Sabem aquela história de que você começa chorando por um motivo e termina chorando por milhares? Isso acontece de verdade. Primeiro a culpa, depois o fato de pensar que seu pai vai ter que pagar pra arrumar a mesma coisa que você havia feito a uns seis meses atrás. Ai você se propõe a pagar, mas lembra que não tem dinheiro, porque não tem um emprego fixo, e lembra que não tem um emprego fixo por escolha pessoal. Mas não tem nem fixo, nem freelancer, nem bico, nem nada. E lembra que você não faz mais nada a uns três meses. Você se sente um lixo, e ao mesmo tempo, não tem força pra ir até o computador mandar um currículo. É uma bola de neve.
Pergunto às vezes se isso é alguma espécie de mal-olhado, de praga, de macumba (embora eu não acredite nisso). Mas sabe quando você fala “não é possível”? Não é possível que eu tenha perdido tanta coisa em tão pouco tempo. Eu perdi a coisa mais importante que alguém pode ter: eu mesma.
Eu me queria de volta, eu queria ter coragem de encarar as coisas novamente, eu queria ter gás de sair todos os dias, e queria ter dinheiro pra isso também, e conseqüentemente um emprego que me desse isso. Eu queria tanta coisa, mas que no fim é uma só.
Estou tão tola que tento me apaixonar todos os dias por caras diferentes, só pra ter alguma aventura, ou alguma espécie de adrenalina na vida. Eu me forço em certas situações, e no fim acabo só me magoando mais. A ponto de enfeitar e fantasiar tanto as coisas, que quando você cai na real e vê que fulano não é o amor da sua vida, ele só teve compaixão em ver que você não estava bem e lhe ofereceu palavras amigas. Ele não queria ficar com você, nem namorar e muito menos te levar até a cidade dos pais dele pra você conhecer a família. Ele só estava sendo uma boa pessoa. E ai, eu me magoei de novo por minha única e imensa culpa vinda da imaginação.
Se eu me permitir, passo o resto do dia escrevendo aqui sobre tudo o que passa na minha cabeça. Das desilusões amorosas ao barulho da falta de fé.
Esse texto foi algo que eu não sabia como começar, e também não faço idéia de como terminar. Mas acho que já sei como farei isso. Porque no fundo, eu estou tendo um pouco de coragem pra publicar isso, e fazer com que tantas e tantas pessoas parem de julgar, a achar que todo mundo leva uma vida numa boa só porque posta coisas idiotas em redes sociais. A vida não é perfeita pra ninguém, muito menos pra mim.
Não sei qual é a sua religião, nem de onde vem a sua fé. Mas se eu pudesse pedir algo de aniversário esse ano (faltam dez dias), seria força. Então, rezem, orem, clamem, mandem energias, ou qualquer coisa do tipo pra que eu tenha um pouco pra seguir em frente e me ter de volta.

6 comentários:

  1. Me identifiquei muito.. Forças pra você Bru! :)

    ResponderExcluir
  2. Li o texto e você simplesmente tirou as palavras da minha boca... Sei o quanto é difícil, estou passando pelas mesmas coisas. Força pra gente, creio que um dia vamos ser realmente felizes!! :)

    ResponderExcluir
  3. Li seu texto e não controlei a emoção. Você colocou em palavras tudo que eu sinto. Te desejo muita força para que possa estar superando tudo isso. Muita força.

    ResponderExcluir
  4. Força! Quem te admira, estará sempre torcendo por ti!

    ResponderExcluir
  5. Vai ler uma bíblia .... #MEUCU

    ResponderExcluir
  6. Bruna, te admiro tanto! Acompanhava seu trabalho nos tempos de Restart e desde então venho me identificando com você a cada texto, a cada linha de pensamento... É engraçado porque parece que algumas coisas que sinto só você entende, coisas que nenhum dos meus amigos faz ideia de como é e não podem me ajudar porque não sabem como é estar num estado de espírito que nada se move e a gente não consegue achar um único motivo pra sair da cama e dar um sorrisinho pela janela... Queria demais ter você por perto, sabia? Pra te ajudar de alguma forma, de qualquer forma, porque sei como você se sente e sei como cada linha dos seus textos são plausíveis e coerentes com a minha realidade... Eu te desejo muita força, muita luz! Não desista de você, por favor, por favorzinho, não desista! Me perdoe se isso soar um tanto pressionante ou talvez até egoísta de minha parte, mas eu realmente preciso de alguém que seja como um exemplo de superação de tudo isso, de toda essa onda de sensações e pensamentos que parecem não ter propósito aparente nem um fim... Te desejo toda a força do mundo, e te admiro demais, demais! Te acho maravilhosa, cada aspecto teu, um conjunto encantador! Eu queria terminar esse comentário que virou mini-texto te agradecendo por existir e ter me tocado com se jeito e suas palavras, mas acho que vai ficar meio clichê rsrs. Enfim, é isso! <3

    ResponderExcluir