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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A sombra de um sonho

Misteriosamente hoje me bateu uma sensação que me assombra de uns tempos pra cá. Acordei disposta a limpar meu guarda-roupa e dar embora um monte de coisas que eu não usava mais. No meio daquela bagunça, um cheiro de saudade e uma vontade de vez de colocar um ponto final em tudo.
Onze camisetas, duas blusas, e um milhão de pensamentos rodando minha cabeça e lembrando da melhor fase da minha vida. Coincidentemente ou não, falta menos de uma semana pra fazer quatro anos que recebi o e-mail que mudou a minha vida.
Desde que me conheço por gente, tenho o sonho de cair na estrada. Na verdade mesmo eu sempre quis ser artista, cantar, tocar... Mas a gente cresce e cai na real. Quando me apaixonei por fotografia e conheci os ramos que a profissão podia me levar, de cara me imaginei viajando pelo país com alguma banda estourada. Pra mim isso tudo parecia muito distante, afinal, a banda mais estourada do momento era minha preferida e não achei que pudesse vir outra com tanto ou mais sucesso.
No dia 26 de agosto de 2009, abri minha caixa de e-mails sem pretensão alguma, e recebi um com o título "Banda Restart". Eu não sabia direito quem eram eles, tinha visto uma vez ao vivo em alguma casa de show aqui no ABC e sabia que estavam fazendo sucesso na cena. Na época, eu fotografava uma banda pequena de Santo André, e de saber que o convite surgiu de uma banda mesmo que ainda um pouco maior, me fez saltitar de alegria. Lembro que assim que meus pais chegaram em casa, eu sai correndo pra avisar e de cara já marquei um dia de trabalho com eles que seria meu teste, coincidentemente na mesma casa de show que vi eles a primeira vez.
Antes do show em São Caetano, tivemos uma festa fechada em São Paulo. Tudo era muito mais tranquilo naquele tempo, meu pai que me levava para os lugares e pontos de encontro, muitas vezes perto da casa dos meninos. Meu cachê era 12% do que cobro hoje pra fotografar um show... Naquele dia eu cheguei miudinha, era dia 29 de agosto. E eu lembro como se fosse ontem... No mesmo dia os próprios meninos viram as fotos na câmera mesmo e já me adotaram como integrante da equipe. Nossa, eu ia pra estrada! Tudo era tão pequeno e pra mim já parecia grande demais.
No final de semana seguinte já tivemos uma mini tour no sul. Lembro que levamos 18 intermináveis horas pra chegar em Porto Alegre... Nesse tempo a gente viajava de van e chegava muito de madrugada. Depois de alguns problemas com caronas pra casa, meu pai quem começou a me buscar 2, 3, 4 horas da manhã... Ele acordava e dirigia os 30km de distância da minha casa até a casa dos meninos pra ir me buscar.
No começo era tudo muito diferente, nós éramos cerca de 12, 13 pessoas na equipe dentro de uma única van. Logo me apeguei a todo mundo e fiz amigos que sou amiga até hoje... Como os shows eram mais perto, a gente tinha mais tempo pra ficar em hotel e até conhecer as cidades. Nessa primeira viagem conheci Curitiba, e arrisco em dizer que isso pode ter sido um dos grandes pesos por eu ser apaixonada por essa cidade.
A caminho de algum show a gente ouvia a rádio e começou a tocar a primeira música de trabalho dos meninos. A gente pulava e gritava tanto, eu me sentia como se fosse minha própria música tocando na rádio... Abracei essa ideia por muitos meses. Hoje em dia eu nem sei se eu gosto ou não da música que eles faziam, mas eu abraçava tanto a ideia de trabalhar com a banda e me doar 100% que virei fã de carteirinha.
Ao longo dos meses as coisas foram crescendo incontrolavelmente. Mais shows, cidades mais distantes, milhares de gravações em rádios e tvs.

Quando minha avó chegou e disse que viu a banda que eu trabalhava na tv, ai sim eu percebi a proporção da coisa. Vivi indiretamente um sonho que nem era meu. E conquistei fãs que também nem estavam ali por mim.
Quando conto pra algumas pessoas que não fazem ideia de como é esse mundo, eles ficam boquiabertos quando conto que descia do ônibus, numa cidadezinha do interior e me deparava com alguma menina com um cartaz escrito meu nome. Ou quando antes do show eu ia conferir o palco e os cantos em que eu poderia me infiltrar pra fazer boas fotos, e ouvia 2, 3, 4 mil pessoas gritando. Quando eu ia filmar a fila que dava voltas no quarteirão do Happy Rock Sunday, e precisava levar um segurança comigo... O amor das fãs da Restart era muito caloroso, e todas eram sempre muito receptivas.
Confesso que quando entrei na equipe, eu tinha medo por ser uma das únicas mulheres e achava que as fãs não iriam gostar de mim, por ciúme ou inveja. Mas quando eu percebi que estava conquistando um cantinho no coração que guardavam para a equipe, eu fiquei encantada. Mal sabia eu, que o amor refletido na representação que eu fazia por elas, iria me prejudicar um dia.
Depois de um ano de estrada, eu percebi que não conseguia mais conciliar trabalho e estudo. Eu era apaixonada pela minha faculdade, pelos meus amigos e faltava tão pouco pra acabar. Mas eu escolhi trancar a minha matrícula e me dedicar como sempre o máximo que eu podia pelo meu trabalho. Agora nada mais me impedia...
Eu dormia em casa duas ou três noites na semana no máximo. Lembro que uma semana nós saímos na quinta e voltamos na terça da outra... Eu perdia tanta coisa pelo meu trabalho. Perdia muita coisa em família, muitos aniversários, datas comemorativas, perdia até mesmo qualquer programa normal que pudesse fazer com meu namorado na época. Esses dias eu achei um texto que fiz no final de 2010, e nem eu lembrava o quão depressivo estava sendo viver meu sonho.
Quando o Fresno escreveu em uma música "o asfalto é minha casa, mas não dá pra chamar de lar. É tão vazio, tão frio, tão fora do lugar", eles sabiam do que estavam falando.
Mas eu estava ainda e apesar de tudo, apaixonada pelo o que eu fazia. Eu fotografava a banda mais estourada do Brasil, 'conhecia' o pais inteiro, comia diferentes comidas, eu aprendia muito, e eu não só tirava foto... Eu era conselheira, eu comia docinhos no camarim da banda, eu fazia massagem, eu era travesseiro, eu ajudava a escolher roupa, ajudava a arrumar cabelo, guardava todos os presentes, e acima de tudo eu era amiga.
Eu gostaria de poder contar todos os detalhes, e até mesmo ver se isso me ajudaria a entender o que aconteceu. Mas não dá...
Fato é que no final de 2010 as coisas começaram a esfriar. O tesão pelo trabalho estava ficando pequeno comparado as dores de cabeça que eu estava tendo.
Nessa parte do texto, a gente finge que nada aconteceu, porque mesmo acontecendo tanta coisa, mesmo eu juntando todas as peças, eu não consigo entender o que foi que aconteceu pra receber aquela ligação em dezembro. Aquela ligação que em três minutos acabou com o sonho que eu tava vivendo nos últimos 16 meses.

Esse texto não é pra trazer a tona nada de profissional, até porque, esse blog é pessoal. E eu estou expondo coisas pessoais minhas... Por isso, infelizmente não posso ser clara o suficiente pra fazer todo mundo entender o que aconteceu. Porque no fundo mesmo, não se preocupem: eu também não sei o que aconteceu.
É que agora a pouco eu estava assistindo o Rock Estrada, e vendo minhas imagens ali, meu trabalho passando no Multishow. E eu comecei a pensar em tudo que aprendi, e o quanto eu pude crescer.
O problema é que a partir daquele dia, eu simplesmente dei inúmeros passos pra trás. Foram muitos meses pra sair da depressão... Quase perdi os 10kg que havia ganhado com a má alimentação na estrada. E bom, toda a carga e portifólio que ganhei não adiantaram de nada, porque eu simplesmente não queria mais trabalhar.
Aos poucos, em pequenos passos eu fui voltando ao ritmo. Mas posso garantir que o choque de realidade entre os anos de 2009 e 2010, 2011 e 2012 foram exatamente opostos. Dos melhores aos piores anos da minha vida em uma ligação de 3 minutos.
Hoje eu estou formada, voltando ao trabalho aos poucos, com projetos legais pro ano que vem, e ao lado de pessoas que só querem o meu bem. E depois de jogar tudo fora, todas as palavras, e camisetas de uniforme, posso garantir que eu estou finalmente superando.
A dor da perda é algo que demora muito pra sair de dentro de você. Ainda mais quando pelo menos uma vez por semana alguém, qualquer pessoa, te pergunta "E o Restart?".
Depois de muito tempo eu posso dizer que estou pronta pra seguir em frente. E sei que muita gente não vai entender, mas a grandiosidade desse sonho foi pra mim assim como era pra eles, e assim como era pra vocês. E quando eu perdi isso, eu perdi a minha essência...
Por falta de atualização na profissão, por ter fãs demais, por companheiros de equipe de mau caráter ou simplesmente pelo destino... Eu passei por tudo isso, e doeu. Mas a vida continua, e posso dizer que nunca é tarde pra continuar. E bom, quatro anos depois de tudo, eu posso dizer pra vocês: estou seguindo em frente.

4 comentários:

  1. Tornei-me sua fã por causa da Restart e não entendi o pq de vc não estar mais na equipe.
    Hj não me identifico tanto com a banda como antes, mas continuo sua fã e admirando seu trabalho.
    Vc é uma garota mto forte, continue lutando.
    Mto sucesso e felicidade!

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  2. Bru, se você até hoje não entende, imagina nós... Mas Deus quis assim e cabe a nós entender. Você tinha que passar por aquela fase boa e depois pela ruim, para provar que era forte. Você é uma pessoa MARAVILHOSA e espero que a partir de agora só venha coisas boas pra você. Toda a felicidade do mundo hoje e sempre. VOCÊ merece!

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  3. Isso mesmo Bru, a vida continua! O seu caminho é longo e de sucesso! (:

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  4. Ei, brubs... te conheci através da banda, porém quando te vi pessoalmente no othon, rj. Saindo do hotel, cansada e sempre simpática, atendendo quem estava na porta, tirando fotos... juto, naquele momento te vi como 'idolo' a pessoa mais simpatica e fofa do mundo. Continue sempre assim, Deus tem o melhor pra você, espero que nunca, independente de qualquer coisa, nunca deixe de ser essa menina linda, meiga e simpatica. Beijos. :)

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