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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Gata borralheira

Fernanda é uma garota de 22 anos. Garota porque apesar de já ter atingido a idade adulta, vez ou outra ainda se comporta como uma menininha. Sonha acordada, mas sem poder sair do quarto. Namora, mas nada passa de caminhar de mão dadas com Felipe no parque. Se acha independente, mas não sai do rabo de saia dos pais.
Fernanda é daqueles tipos que nunca sabe se o que está sentindo é real, e não por ser confusa ou qualquer coisa do tipo. Ela é só mais uma nova mulher no mundo, com mil histórias pra contar. Histórias essas que a machucaram, fazendo criar em sua cabeça situações pra deixar sua vida com uma pitada de esperança e aventura.
Hoje de manhã ela acordou, tomou seu café da manhã que tem se resumido a um copo de leite. Meio hoje, porque o café era pouco e a preguiça te impediu de fazer mais. Preguiça... Essa é a palavra que Fernanda mais tem carregado e usado como desculpas pra tudo... Enquanto ajudava sua mãe nos afazeres domésticos, desabafava sobre uma conversa que teve na madrugada passada. A melhor amiga, 30 anos mais velha, só balançava a cabeça e dizia 'é complicado'.
Subiu pro seu mundo, aquele que ficava entre a beira da cama e a mesa do computador. Colocou uma das suas cantoras favoritas pra tocar e pensou "Gosto mesmo dessa música ou só estou ouvindo ela porque me faz lembrar de alguma coisa?".
Fernanda começou a retroceder histórias e conversas, pensando até que ponto tudo aquilo aconteceu de verdade ou a mente vazia dela criou. Será que ela realmente está triste, ou parece estar só porque quer parecer. Será que ela realmente estava apaixonada, ou era só uma forma de ter algo pra se apegar? Será que Fernanda realmente estava gostando da nova aventura amorosa na sua vida, ou ela simplesmente queria gostar? Fernanda realmente gosta dessa música que está ouvindo, ou ela simplesmente finge gostar só porque a música diz algo como 'estou tentando não te contar que eu quero também, mas tenho medo do que você vai dizer então eu escondo isso'. Fernanda, você realmente está escondendo ou acha que está?
De certa forma, essa menina-mulher transforma a vida dela de um jeito que só ela entende. Ela sabe que o seu príncipe encantado pode não vir de carro, quem dirá de cavalo. Ela sabe que eles não morarão num reino tão-tão-distante, mas que dependendo do trânsito pode parecer. Ela sabe que não está apaixonada, mas que no fundo quer gostar ainda mais de Felipe, porque lhe faz bem.
Fernanda é uma princesa maluca, pseudo-apaixonada, que muda de humor com as músicas que ama ou finge amar. E ela estará sempre disposta a ir pra onde for preciso, transformar um aperto de mão em um pedido de casamento. Então deixa a Fernanda sonhar... Deixa ela acreditar que o seu mundinho entediante é um conto de fadas ainda nas primeiras páginas. Deixa ela pensar que gosta disso. Ou será que ela realmente gosta?
Fernanda acha que gosta de muita coisa, ela se apega por se apegar, e acaba se apegando de verdade. Talvez depois de ler isso, Fernanda talvez perceba que a vida não é só fantasia, mas que se for pra ser de verdade, está escrito nas últimas página do seu conto. Enquanto o mundo gira lá fora, dentro do seu conto de fadas moderno, ela lava, passa e cozinha esperando a oportunidade de Felipe aparecer na porta da sua casa te pedindo pra ir com ele. Eles não vão casar tão cedo como nos contos comuns, mas já que esse conto é dela, ir ao cinema já a deixa suspirando por duas semanas ou mais.
A princesinha, agora para e concluí: "Eu realmente gosto daquela música". Assim como gosta de usar preguiça como desculpa, assim como gosta de ficar em casa, assim como gosta de Felipe e principalmente como gosta de achar que gosta.

                                                                                            - Bruna Ferrari, 22 anos, publicitária formada, fotógrafa abandonada. Sonhadora, acredita em contos de fadas e sempre quis se chamar Fernanda. Parece forte mas conta segredos como esse, pra qualquer pessoa que lhe dá cinco minutos de atenção. Tem um amor platônico pelo nome Felipe, que pode - no fim - ter qualquer outro nome e até ser você.

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